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Os Modos Gregos
Os Modos Gregos

OS MODOS GREGOS

Na Grécia antiga, as diversas organizações sonoras (ou formas de organizar os sons) diferiam de região para região, consoante as tradições culturais e estéticas de cada uma delas. Assim, cada uma das regiões da antiga Grécia deu origem a um modo (organização dos sons naturais) muito próprio, e que adaptou a denominação de cada região respectiva. Desta forma, aparece-nos o modo dórico (Dória), o modo frígio (da região da Frígia), o modo lídio (da Lídia), o modo jónio (da região da Jónia) e o modo eólio (da Eólia). Também aparece um outro — que é uma mistura dos modos lídio e dórico — denominado modo mixolídio.

HISTÓRIA

Historicamente, os modos eram usados especialmente na música litúrgica da Idade Média, sendo que poderíamos também classificá-los como modos "litúrgicos" ou "eclesiásticos". Existem historiadores que preferem ainda nomeá-los como "modos gregorianos", por terem sido organizados, também, pelo papa Gregório I, quando este se preocupou em organizar a música na liturgia de sua época. No final da Idade Média a maioria dos músicos foi dando notória preferência aos modos jónio e eólio que posteriormente ficaram populares como Escala maior e Escala menor. Os demais modos ficaram restritos a poucos casos, mas ainda são observados em diversos gêneros musicais. O sétimo modo, o lócrio foi criado pelos teóricos da música para completar o ciclo, mas é de raríssima utilização e pouca aplicabilidade prática. De fato, o modo lócrio existe como padrão intervalar, mas não como modo efetivamente, visto que a ausência da quinta justa impede que haja sensação de repouso na tríade sobre a nota fundamental. Por outro lado, tanto a música erudita quanto a música popular do século XX (marcadamente o jazz) acolheram o uso da quarta aumentada (ou quinta diminuta), pois a tensão proporcionada pela dissonância pode ser aproveitada com finalidades expressivas.

FUNDAMENTAÇÃO

Os modos baseiam-se atualmente na escala temperada ocidental, mas inicialmente eram as únicas possibilidades para a execução de determinados sons. Desde a antiga Grécia os modos já se utilizavam caracterizando a espécie de música que seria executada. Os modos, bem definidos então, eram aplicáveis de acordo com a situação, por exemplo: se a música remetia ao culto de um determinado deus deveria ser em determinado modo, e assim para cada evento que envolvesse música. Com o temperamento da escala e a estipulação de uma afinação padrão, os modos perderam gradativamente a sua importância, visto que a escala cromática englobava a todos e harmonicamente foi possível classificá-los dentro dos conceitos "maior e menor". O uso de frequências determinadas possibilitou o desenvolvimento das melodias na música juntamente com a harmonia e, com isto, na atualidade, os modos facilitam a compreensão do campo harmónico e sua caracterização, mas não possuem mais funções individuais. O fato de não mais estabelecermos diferença entre bemol e sustenido na escala cromática veio a restringir ainda mais o emprego de modos na música, senão como elemento teórico. Os modos podem ser entendidos com extensão da escala natural de dó maior. As notas dó ré mi fá sol lá si fazem parte de dó jônico. Se aplicarmos essas mesmas notas transformando a tónica em ré, teremos ré mi fá sol lá si dó, um ré menor dórico. Em mi menor temos mi fá sol lá si dó ré mi, um mi menor frígio, e assim por diante.

COMPREENDENDO

Partimos da escala padrão diatónica (a que se forma pelas notas sem acidentes) dó - ré - mi - fá - sol - lá - si, e sobre cada uma destas notas criamos uma nova escala diatónica. Quando fazemos isto, a relação dos tons é alterada, consequentemente todo o campo harmónico também muda, visto que, ao estabelecer uma nota como a inicial, estabelece-se a tónica da nova escala. Para ser mais claro, na escala musical temos funções que classificamos como graus para cada uma das notas, de acordo com sua posição acerca da primeira. Portanto, (nota por nota) sendo os graus: tónica, super-tónica, mediante, sub-dominante, dominante, super-dominante e sensível (para, por exemplo: dó - ré - mi - fá - sol - lá e si), o que mudamos no sistema modal é esta função de cada uma, criando uma nova relação entre os graus e notas. Tudo isso deve-se unicamente por estabelecermos uma nova tônica mantendo os intervalos.

COMO SÃO

Da escala diatónica: dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, extraímos a relação intervalar de tons (T) e semitons (st) seguinte: T - T - st - T - T - T - st. Sempre que existir esta relação intervalar, teremos o modo jónio ou escala maior (no caso, de dó). Se firmarmos como tónica o ré, usando a mesma escala diatónica, teremos: ré, mi, fá, sol, lá, si, dó: T - st - T - T - T - st - T. Sempre que esta relação existir, teremos o modo dórico, e assim por diante:

MODOS

Por tons e semitons:

  • T - T - st - T - T - T - st: Jónio(Port. Europeu)
  • T - st - T - T - T - st - T: Dórico
  • st - T - T - T - st - T -T: Frígio
  • T - T - T - st - T - T - st: Lídio
  • T - T - st - T - T - st - T: Mixolidio
  • T - st - T - T - st - T - T: Eólio
  • st - T - T - st - T - T - T: Lócrio

POR INTERVALOS

  • T 2M 3M 4J 5J 6M 7+ : Jônio(Port. Bras.)
  • T 2M 3m 4J 5J 6M 7 : Dórico
  • T 2m 3m 4J 5J 6m 7 : Frígio
  • T 2M 3M 4+ 5J 6M 7+ : Lídio
  • T 2M 3M 4J 5J 6M 7 : Mixolídio
  • T 2M 3m 4J 5J 6m 7 : Eólio
  • T 2m 3m 4J 5° 6m 7 : Lócrio

EXEMPLOS

  • dó - ré - mi - fá - sol - lá - si: Jónio
  • ré - mi - fá - sol - lá - si - dó: Dórico
  • mi - fá - sol - lá - si - dó - ré: Frígio
  • fá - sol - lá - si - dó - ré - mi: Lídio
  • sol - lá - si - dó - ré - mi - fá: Mixolídio
  • lá - si - dó - ré - mi - fá - sol: Eólio
  • si - dó - ré - mi - fá - sol - lá: Lócrio

ENTENDENDO MELHOR

Para sabermos utilizar tais sistemas na prática, devemos ter em mente que a escala musical atual é cromática, portanto, podemos estabelecer uma tonalidade e sobre esta (sem mover a nota da tónica) estabelecer cada uma das funções de um modo.

EXEMPLO (PARTINDO SEMPRE DE UMA NOTA C )

  • Jônio: dó - ré - mi - fá - sol - lá - si
  • Dórico: dó - ré - mi♭ - fá - sol - lá - si♭
  • Frígio: dó - ré♭ - mi♭ - fá - sol - lá♭ - si♭
  • Lídio: dó - ré - mi - fá♯ - sol - lá - si
  • Mixolídio: dó - ré - mi - fá - sol - lá - si♭
  • Eólio: dó - ré - mi♭ - fá - sol - lá♭ - si♭
  • Lócrio: dó - ré♭ - mi♭ - fá - sol♭ - lá♭ - si♭

Isso cria, para cada modo, um novo campo harmónico, uma tónica em escalas diferentes.

Resumindo...

MODOTerçaIntervalo Característico           Nota Diferencial                            Referencial à Escala Diatônica Moderna
JÔNIO maior       -----         -----                      Idêntica à Dó Maior
DÓRICO menor    6ª Maior         Si                      Ré Menor
FRÍGIO menor    2ª Menor         Fá                      Mi Menor
LÍDIO maior    4ª aumentada         Si                      Fá Maior
MIXOLÍDIO maior    7ª menor         Fá                      Sol Maior
EÓLIO menor -----          -----                      Idêntica à Lá menor
LÓCRIO menor    2ª menor e 5ª   diminuta Dó e Fá                      Si Menor

 

CLASSIFICAÇÃO

Modos maiores

  • Jônio
  • Lídio
  • Mixolídio

 Modos Menores

  • Dórico
  • Frígio
  • Eólio
  • Lócrio (este podendo ser também classificado como diminuto)

APLICAÇÂO

Para aplicarmos os modos praticamente, devemos ter conhecimento sobre harmonia para compreender os encadeamentos harmônicos que cada escala modal propõe. Na realidade, é muito simples: se, por exemplo, tocamos uma música na tonalidade de dó maior, cuja tônica (estabelecemos) é o sol, estamos trabalhando com o modo "sol mixolídio" (muito usado em músicas nordestinas). Se, harmonicamente, em uma música cujo tom está em dó maior, surge um acorde de ré maior, estamos no modo "dó lídio". Conhecer os modos facilita a interpretação e composição musical, desde que tenhamos bem óbvia a questão da harmonia.